segunda-feira, 12 de julho de 2010

Tentação!



O vento e a chuva são velhos companheiros. Permeiam minha dor tornando minha alma insensível aos reveses da vida. Sou um nada acolhido no útero da escuridão. As descargas virulentas do ego ainda ecoam na memória, mas nada mais sou que um mísero espectro sem vida. Postado na soleira da fria e solitária cripta, observo os fantasmas que acompanham minha derrocada. Estou parado no tempo, na Terra, na vida, no tudo! Um ser sem horizonte que anseia pelo golpe que lhe traga a paz.
Embora nem sempre tenha sido assim, já não me recordo mais do tempo em que a vida era colorida. Meus dias se fazem negros e já não sou mais capaz de fixar meus olhos no disco solar. Meu âmago padece sem saber se encontrará o fim de tanto esmorecer.
Um relampejar sobrevoa o mausoléu que me acolhe. Da cripta posso medir os passos que as faíscas executam no manto negro da noite. As horas se arrastam com maior morosidade. Já não há mais lua ou estrelas, tudo é breu neste meu mundo de sofrimento e morte.
Sons desconexos e distantes principiam a monótona cantilena que acompanha minha solitária vigília. De tão habituado ao troar da insossa canção, faço coro aos acordes ininteligíveis. Sei que muitas das vozes que se levantam nesta melodia, pertencem aos desafortunados que conviveram com o ser que já fui. Seus rostos estão gravados em minha consciência e por mais que os deseje esquecer, eles sempre se mostram como um pesadelo sem fim.
Alucinações ferem minha mente e transportam-me para o mundo do tempo esquecido. Sou novamente o ser que partilha a augusta companhia dos anjos. Meu reflexo alimenta os ensejos mais secretos. Meu eu liberta os sonhos mais desejados. Sou o anjo da sedução, o anjo da paixão, o anjo... caído...


Créditos: Mr D.

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