segunda-feira, 11 de março de 2013

Amor não se pede!




Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer estado, de qualquer espírito. Mas amor não se pede, imagine só.
Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso.
Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso.
Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não. Amor não se pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: "Ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema?" Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei. Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: "Ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta." Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida. É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar.
É triste lembrar como eu ria com ele.
Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?
Ele sabe, ele sabe.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Let Me Try Again!



Você viveu um grande amor que terminou meses atrás. Está só. Nada nesta mão, nada na outra. A sexta-feira vai terminando e, enquanto seus colegas de trabalho aquecem as turbinas para o fim-de-semana, você procura no jornal algum filme que ainda não tenha visto na tevê. Ao descobrir que vai passar Kramer vs. Kramer de novo, não resiste e cai em tentação: liga para o ex. 
Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho, é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato preferido de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel. 
Porém, apesar de toda boa intenção, nenhum dos dois consegue disfarçar o cheirinho de comida requentada que fica no ar. O motivo que levou à separação continua por ali, escondido atrás do sofá, e qualquer hora aparece para um drinque. O fim de um romance quase nunca tem a ver com os rompimentos de novela, onde a mocinha abre mão do amado porque alguém a está chantageando ou porque descobriu que ele é, na verdade, seu irmão gêmeo. No último capítulo tudo se esclarece e a paixão segue sem cicatrizes. Já rompimentos causados por incompatibilidades reais não são assim tão fáceis de serem contornados. 
Toda reconciliação é precedida por uma etapa onde o casal, cada um no seu canto, faz idealizações. As frases que não foram ditas começam a ser decoradas. As mancadas não serão repetidas. As discussões serão evitadas. Na nossa cabeça, tudo vai dar certo: o roteiro do romance foi reescrito e os defeitos foram retirados do script, ficando só as partes boas. Mas na hora de encenar, cadê o diretor? À sós no palco, constatamos que somos os mesmos de antigamente, em plena recaída. 
Se alguém termina um namoro ou casamento, passa um tempo sozinho e depois resolve voltar só por falta de opção, está procurando sarna para se coçar. Até existe a possibilidade de dar certo, mas a sensação é parecida com a de rever um filme. Numa segunda apreciação, pode-se descobrir coisas que não haviam sido notadas na primeira vez, já que não há tanta ansiedade. Mas também não há impactos, surpresas, revelações. Ficamos preparados tanto para as alegrias como para os sustos e, cá entre entre nós, isso não mantém o brilho do olho. 
Se já não há mais esperança para o relacionamento e tendo doído tanto a primeira separação, não há por que batalhar por uma sobrevida deste amor, correndo o risco de ganhar de brinde uma sobrevida para a dor também. É melhor aproveitar esta solidão indesejada para namorar um pouco a si mesmo e ir se preparando para o amor que vem. Evite a marcha a ré. Engate uma primeira nesse coração.
- Martha Medeiros

terça-feira, 31 de julho de 2012

O mal que te faço!



Não faço bem a você,
Eu queria ficar,
Mais já é tarde, e tenho que ir,
Pra onde? Nem sei ainda,
Talvez caminhar por ai,
Não faço bem a você...

Tento te manter a salvo,
Do perigo iminente que me tornei,
Porque insiste tanto, que eu permaneça perto de você?
Porque gosta de ser tratado assim?
Não faço bem a você.

Sou o mal disfarçado,
Não um mal proposital,
Sou mal sem ser,
Te querendo bem,
Mais só fazendo mal a você.

Não faço bem a você,
Me deixe ir,
Agora é tarde demais,
Já causei estrago demais, em sua vida,
E só você não vê,
Não faço bem a você.

Não quero que sinta a dor de amor, que louca senti,
Não faz bem a mim, e muito menos a você,
Eu não te faço bem,
Mais eu te quero bem.

terça-feira, 26 de junho de 2012

"Meus problemas são mais importantes!"


Não posso ser feliz quando mudo só para satisfazer o seu egoísmo. Nem posso me sentir contente quando você me critica por não ter seus pensamentos. Ou por ver como você vê. Você me chama de rebelde. No entanto, cada vez que rejeitei suas crenças você se rebelou contra as minhas. Não procuro moldar sua mente. Sei que você está se esforçando muito para ser só você. E não posso permitir que me diga o que ser... Pois estou me concentrando em ser eu.
- Leo Buscaglia

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Este é o mais terrorífico dos contos. Não há cenas cómicas nem viajens de aventuras, simplesmente as sombras da alma de um mago.

Tudo começa com um jovem mago rico, habilidoso e atractivo, que tem vergonha das tolices dos seus amigos quando se apaixonam. Está tão convencido de que ele não quer cair na mesma loucura que aplica as Artes das Trevas para evitar apaixonar-se algum dia. É um conto que pretende conscienciar as crianças feiticeiras sobre o uso tenebroso da magia. A sua família, que não sabe dos métodos que usou o jovem para se proteger do amor, faz troça dos seus esquivos para não conhecer uma bela jovem.
Ele cresce orgulhoso, convencido da sua inteligência e impressionado do seu poder de ser completamente indiferente aos sentimentos. O tempo passa e o feiticeiro vê os seus amigos casar e formar as suas próprias famílias, mas ainda convence-se mais da sua recusa. Quando os seus pais morrem, não fica triste mas sente-se estranhamente "abençoado" pelas suas mortes.
O jovem muda-se para a casa que heredou e leva o seu "maior tesouro" à masmorra. O mago sente-se enganado ao ouvir uma conversa entre dois criados, um sentindo pena dele e outro a fazer troça de que ainda não tenha esposa. Então decide casar com a mais bela, saudável e talentosa mulher, e transformar-se, assim, na "inveja de todos os outros". Justamente no dia a seguir conhece a bruxa que procura. Considera-a um tesouro e convence-a a acreditar que é um homem mudado. Ela sente-se fascinada e repelida, mas aceita assistir a um banquete no seu castelo. No jantar, ele corteja-a.
Ela responde que apenas gostaria dele se demonstrasse que tem um coração. Então leva-a até à masmorra, onde mostra-lhe um mágico caixão de cristal, onde jaz o seu próprio coração a bater. A bruxa fica horrorizada pela visão do coração, que tornou-se peludo ao sair do corpo e pede ao jovem que o volte a pôr. Sabendo que isso irá convencer a rapariga, o mago abre-se o peito com a varinha e coloca-se o coração. Pensando que ele poderá apaixonar-se agora, ela abraça-o e o horrível coração "perfura-se" pela beleza da sua pele e o cheiro do seu cabelo. O coração ficou estranho aos desligar-se do seu corpo por tanto tempo, e cego e perverso fica salvagem.
Nestes momentos, os convidados do banquete que estão no andar superior perguntam-se que aconteceu com eles. Passadas algumas horas e depois de procurar por todo o castelo, encontram-no na masmorra. No chão descansa a jovem, morta, com o seu peito aberto. Ajoelhado ao seu lado, está o "mago enlouquecido", acariciando e lamendo o seu coração escarlata ainda brilhante e planeando trocá-lo pelo seu.
O seu coração ficou forte e nega-se a abandonar o corpo. O jovem, que jura que nunca será manipulado pelo seu coração, empunha uma daga e corta-o, fazendo-o sentir a vitória por uns momentos com o coração na mão em cada mão antes de cair ao chão e morrer.