segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Strip-Tease!


Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto."
Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou."
Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei."
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua: 
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui."
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Perpetuum!


“Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonhar do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.”

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

05/10/2009


"Caro David... 
Não nos falamos há um tempo e isso me deu o tempo que eu precisava para pensar. Lembra quando disse que devíamos morar juntos e sermos infelizes para podermos ser felizes? Considere uma prova do meu amor eu ter passado tanto tempo considerando isso, tentando fazer funcionar. 
Uma amiga me levou ao lugar mais fantástico um dia desses, Octavio Augusto o contruiu para guardar suas coisas. Quando os Bárbaros vieram, destruíram isso e todo o resto. O Grande Augusto, o primeiro grande imperador de Roma; como ele pensaria que Roma, que era o mundo para ele, estaria um dia em ruínas?
É um dos lugares mais quietos e solitários de Roma. A cidade cresceu em volta dele todos esses séculos, como uma ferida preciosa, um antigo amor que você não quer esquecer. Porque a dor é tão boa. Queremos que as coisas continuem as mesmas, David. Vivemos infelizes por ter medo de mudanças, de ver nossa vida acabar em ruínas. Então, olhei o lugar e em todo o caos pelo qual passou. A forma como foi adaptada, queimada, destruída, e ainda achou formas de se construir de novo. E me senti tranquilizada. Talvez minha vida não tenha sido tão caótica. É apenas o mundo que é, e a armadilha é se apegar demais a ele. Ruínas são um presente. São o caminho para a transformação.
Até mesmo nessa cidade eterna, isso me mostrou que devemos estar preparados para todas as transformações. Merecemos mais do que ficar juntos por termos medo de sermos destruídos se não ficarmos..."
- Comer, Rezar e Amar