quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Proteção divina!

Dia 06 de Junho de 1998 - 12 anos.

- Azazel! Ajude-me a descer daqui - eu gritava enquanto ele passava de baixo da árvore na qual eu estava. - Por favor, estou presa!
       Conhecia Azazel a muito tempo. Na verdade, nem sequer me lembrava quando o conheci de verdade, só sei que ele era um anjo para mim. Literalmente.
       Nunca soube a idade dele, pois sempre que eu lhe perguntava ele começava com aquele sermão de que era falta de respeito perguntar a idade dos outros e que, na verdade, a idade não importava porque o tempo não parava e blá blá blá.
- Por que você sobe ai se sempre fica presa? – ele perguntou quando chegou de baixo do galho que eu estava.
       Azazel tinha um corpo muito bonito, apesar de eu sempre achar aqueles braços musculosos eram – com certeza - bomba. Quer dizer, ele sempre me dizia que não podia tomar remédios e nem comer coisas artificiais, mas eu não acreditava. Eu nunca o vi freqüentando a academia Wave, a mais perto do bairro, então todos aqueles músculos só podiam ser bomba.
- Eu gosto de subir aqui porque esta é minha árvore e tem maçãs deliciosas – eu tentava gesticular com as mãos, mas era complicado porque nós estávamos no final do outono e as folhas da árvore haviam quase todas caído, e assim, as maçãs também. Seus troncos estavam fracos e eu, agarrada à árvore, com medo de cair. E foi então, que meu estômago decidiu dar um daqueles roncos super altos. - ... E eu estava com fome. – fiz cara de brava. Muito obrigada, querido estômago.
- É, eu estou vendo. Parece que você tem um tigre rugindo dentro de você.
- Para de reclamar e vem logo, meus braços estão doendo!
- Já estou indo, mandona! – ele respondeu e começou a escalar a árvore.
       Azazel sempre me tirava daquela árvore quando eu ficava presa e eu sempre ficava espantada com sua facilidade de escalar. Quando eu começava a subir, era o maior sacrifício! Sempre machucava minhas mãos, meus cotovelos e principalmente meus joelhos. Talvez sua altura ajude, eu pensava, e é claro que ajudava, já que ele tinha um metro e oitenta centímetros, e eu míseros um metro e cinqüenta.
       Eu odiava a altura dele e aquela mania que tinha de esfregar minha cabeça e desarrumar todo meu cabelo. Garanto que se eu fosse uns quinze centímetros mais alta ele não se atreveria a bagunçá-lo todo.
       Por falar em cabelo, o dele era lindo. Era negro, liso e sempre estava bagunçado. Ele, sempre que ficava bravo, assoprava os cabelos que lhe caiam da testa – aquilo que ele me proibia de chamar de franja, apesar de ser uma, e das bem bagunçadas – e revirar os olhos. Seus olhos também eram bonitos, porém eu não achava tanta graça no azul, já que os meus também era da mesma cor, porém mais acinzentado, se assim posso dizer.
- Pronto, madame! – ele disse, interrompendo meu blá blá blá interior – Agora, me abrace a cintura e segure-se firme.
       Fiz o que ele mandou. Não sei por que sempre dizia a mesma coisa “Segure-se”, “Abrace-me”... Eu já estava acostumada a descer da árvore com ele e, pelo amor de Deus, ela devia ter o que, uns dois, três metros?
- Pronta?
- Sim, Azazel. – eu respondi indiferente. Como disse, já estava acostumada com aquilo.
- Está bem – ele disse, olhando para baixo – Lá vamos nós! – E então, abriu suas grandes asas brancas e pulou comigo agarrada em seu corpo.
       Eu nunca me cansava de admirá-las. Nenhuma pena fora do lugar; perfeição completa. E acho que Azazel sabia disso, pois ele sempre fazia questão de me levar “de carona” até minha casa. Não acho que ele esteja errado, pois, além de eu ser uma dama, se tivesse as asas que ele tem, eu faria estão de exibí-las para todos.
- Tsc... – eu suspirei profundamente e então completei – Metido.
       Ele riu convencidamente. Ora, que dúvida de que ele faria isso. Mais do que as suas asas, eu adorava aquele sorriso. Era como se o mundo desaparecesse. Só existia eu, ele, e só.
- Chegamos. – ele anunciou enquanto estacionava - como gostava de se revirir ao “pousar” - suas asas.
       Pisei em terra um pouco depois dele – porcaria de um metro e cinqüenta! – e me soltei. Ele dobrou as asas. Ah, eu cheguei a mencionar que só eu conseguia vê-las? Pois é. Ele me explicou o porquê, mas eu não entendi direito... Parece que tem alguma coisa a ver com elas serem feitas de material espiritual, ou algo do tipo.
- Bom, eu preciso entrar. Minha tia deve estar louca me procurando. – revirei os olhos. Desde o acidente de meus pais, quanto eu tinha 5 anos, minha tia ficou completamente neurótica, querendo saber aonde eu estava e com quem estava a cada três minutos.
- Está bem – Azazel respondeu – Vê se não se mete em encrenca por um tempo, Cassey! Pelo menos não enquanto eu estiver longe, está bem?
- Tá, vou tentar! – bufei. Eu não me metia em encrenca tanto assim! Ele era um exagerado.
- Boa menina – ele agradeceu e antes de se virar e ir embora levou a mão em minha cabeça e bagunçou meu cabelo.
- AH, AZAZEL! – empurrei sua mão e ele saiu, sorrindo. Era lindo.
       Fui arrumando o cabelo enquanto andava até a porta da casa antes que minha tia pudesse pensar que eu havia sido assaltada ou qualquer outra coisa. Abri a porta, mas ela não estava lá, ou pelo menos, não na sala. Subi as escadas, entrei no meu quarto e me atirei na cama.
       Apesar de tudo, pensei, sou uma garota de sorte. Eu realmente tenho um anjo da guarda.